Quando falamos em Transpessoal, num primeiro momento as pessoas perguntam: mas, o que é isto? Em poucos segundos seus olhos brilham e alguma coisa parece ecoar lá no fundo, como que reconhecendo antigos caminhos da alma. Qual será o seu mistério?
Talvez porque a busca da consciência-de-si-mesmo ou da auto-consciência seja algo que sempre fez parte da humanidade. No templo de Apolo, em Delfos, havia um frontispício onde se lia seu famoso mandamento “Conhece-te a ti mesmo”. Os caldeus buscavam esse auto-conhecimento nos astros, onde liam a roda dos destinos. Os alquimistas medievais transformavam chumbo em ouro, mas só os tolos não percebiam que a verdadeira transmutação ocorria mesmo era no interior da mente, que se tornava áurea, iluminada. Em nossa pretensão racionalista, perdemos a chave da compreensão desses mistérios dos quais falam enigmaticamente os Vedas, os Evangelhos, o Bagavad-Gita, o Avesta, a Cabala, a Yoga e tantos outros. Sem o autoconhecimento, é impossível a união do ser com sua essência, a união mística.
Mas, esse autoconhecimento significa muito mais do que supõem todas as nossas psicoterapias. Talvez estejamos vivendo hoje um processo evolutivo consciente, às portas de um salto inteligente para o espírito. Teillhard de Chardin, o teólogo herege que quase foi expulso da Igreja, percebeu que a vida é uma ascenção progressiva da consciência rumo a um Outro supra humano, além e acima da percepção individualista e limitada da realidade que nos cerca.
Este é o cerne da fundamentação metafísica da Transpessoal: a busca incessante de uma superação da consciência comum rumo a outros estados de percepção do real. Para isso é necessário um trabalho corajoso de desidentificação dos apegos, das crenças e dos padrões que nos limitam. Este é o princípio que define a sua psicoterapia, seu processo pedagógico, sua concepção de música, de arte, de criatividade. A busca da consciência transpessoal é algo equivalente a uma transmutação alquímica da alma. Daí que é preciso acrescentar à psicologia das profundezas, também uma psicologia das altitudes.
Se algo deve estar presente em todos os tratados de Transpessoal, deve ser a espiritualidade. É esta a sua contribuição neste milênio. E talvez esta seja a derradeira heresia.
Em sua origem, a palavra heresia (do grego hairesis, hairen) significava “escolher”. Depois passou a significar “o que está fora da Igreja”. Ou seja, todo aquele(a) que tem lampejos de uma espiritualidade “fora” do que está previsto pelos dogmas, é um “herético”. Felizmente já passou o tempo da Inquisição...
Hoje, a Transpessoal propõe o estudo da supraconsciência em termos científicos, utilizando para isso o referencial psicológico, fisiológico e neurológico. A espiritualidade não mais se encontra restrita a uma linguagem religiosa e este é um fenômeno que pode se equiparar a um novo Renascimento. Mas foi necessário o resgate de antigas tradições e seu enlace transdisciplinar com a ciência, para que a consciência pudesse ser vista em sua múltiplas dimensões e potencialidades.
Concluindo, porque os olhos das pessoas brilham quando ouvem falar da Transpessoal? Freud dizia que o riso era uma manifestação do inconsciente. Pego de surpresa, ele se entrega rindo. Talvez, no fundo, somos todos heréticos, embora camuflados, e adoramos quando alguém nos lembra isso. A magia da Transpessoal nos lembra a Promessa de uma transmutação alquímica de nossas almas...
Autor Mani Alvarez
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