O filme Graça e Coragem recém-lançado pela Netflix, é a história real do drama vivido na década de 80 pelo mais proeminente filósofo transpessoal contemporâneo, também chamado de o “Einstein da consciência’, Ken Wilber.
Foram apenas 5 anos de convivência com Treya Killam Wilber, seu grande amor, arrebatada por um câncer fulminante e resistente a todos os tipos de tratamento. Mas essa experiência dolorosa vivida pelos dois foi uma parceria sagrada, onde vivenciaram momentos de dor e paixão, desespero e esperança, tudo misturado à visão da morte e do morrer.
Ken Wilber a preparou para a passagem. Após dar seu último suspiro, ele sussurrou ao seu ouvido as frases essenciais do Livro Tibetano dos Mortos: “Reconheça a luz fulgurante como sua própria Mente Primordial. Reconheça que você agora é Uma com o Espírito Iluminado”.
Após sua morte, Ken tomou providências para que seu corpo não fosse perturbado por 24 horas, enquanto continuava a falar as frases do livro para conduzir a sua alma. Em certo momento, surgiu um sorriso extraordinário em seu rosto, um sorriso de absoluta felicidade, paz, realização, liberação. Todos os traços de sofrimento dos últimos meses desapareceram de seu semblante. Aquele sorriso permaneceu em seu rosto até o momento em que ela foi conduzida para o crematório.
Os cinco anos vividos com Treya comprovaram o acerto da intuição de Ken Wilber quando desenvolveu suas ‘teorias de tudo’ nas inúmeras obras que foram publicadas e traduzidas em todo o mundo. No Projeto Atman, por exemplo, ele diz que o desenvolvimento psicológico nos seres humanos é simplesmente um reflexo microcósmico do crescimento universal de tudo na natureza. Ou seja, tudo se desenvolve a partir de estágios, cada nível sobrepondo-se ao seu predecessor de forma a incluí-lo, mas também a transcendê-lo. E assim a vida se desenvolve, se supera e renasce.
Com esse modelo em mente ele desenvolveu a teoria dos estágios e níveis de consciência adotado pela Transpessoal como o caminho humano para o Todo. A esse caminhar ele chamou de “ciclo geral da vida”. Estudou profundamente a Filosofia Perene dos sábios místicos do ocidente e do oriente, e chegou à conclusão de que todos eles deixaram registros muito detalhados dos estágios e etapas de sua própria transformação até os planos superiores da consciência.
Esses ciclos de vida passam de um estado inicial de Subconsciência, onde predominam os instintos, os impulsos irracionais, a inconsciência, e daí para a Autoconsciência, onde se anunciam o ego, a personalidade, o individualismo. Mas o desenvolvimento humano não para aí. A Supraconsciência, relatada por todas as escolas místicas do oriente e do ocidente – hinduísmo, budismo, taoísmo, sufismo, cristianismo, platonismo, gnosticismo, teosofia etc – como um estado de unidade transpessoal e iluminação, é o estado onde o Eu se dissolve no Todo.
Ken Wilber conclui que o desenvolvimento psicológico dos seres humanos tem o mesmo objetivo da evolução natural: a produção de Unidades mais sutis e sempre superiores. E como a Unidade final foi representada pelos grandes Mestres da humanidade – Jesus, Buda, Maomé – podemos concluir que o crescimento psicológico tem por meta a evolução da consciência em direção a um estado de Supraconsciência.
Este é o seu Projeto Atman, a dinâmica transpessoal do desenvolvimento psicológico, um processo de desdobramento da consciência desde seus níveis mais inconscientes e egocêntricos até a Unidade e a Iluminação Final. “Todos os seres vivos possuem a natureza de Buda”, diz o Nirvana Sutra. Desde o início a alma intui a essa natureza divina, e desde o início procura concretizá-la como uma realidade, e não apenas como um potencial enovelado e provisório.
Treya Wilber viveu de forma intensiva essa busca através do martírio imposto pelos cinco anos de sua doença. Durante esse tempo, acompanhando de perto a evolução espiritual de sua amada Treya, Ken Wilber comprovou, da forma mais dolorosa, mas também mais verdadeira, o acerto daquilo que os místicos anunciaram desde sempre: o Universo é um manto sem costuras (Whitehead). Tudo é Atman (Deus).
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